Muitas pessoas pensam que o atendimento em uma clínica de psicologia funciona da mesma maneira para todas as pessoas, que cada psicólogo atende sempre do mesmo modo o paciente que recebe. Não é assim que acontece. Existem centenas de abordagens psicológicas. A logoterapia é uma delas, e aqui quero mostrar de modo breve como é a estrutura de uma clínica logoterapêutica.
Primeiro, a logoterapia tem uma base
fenomenológica-existencial, isto é, ela prioriza o momento do paciente, seu
presente; não que o passado seja ignorado, mas ela busca lidar com o
fenômeno-existencial da pessoa. Apesar do passado, daqui para a frente você
pode ter uma nova história.
Segundo, a logoterapia valoriza a relação terapêutica a
partir do encontro existencial. Existem técnicas e critérios, mas sobretudo o
mais importante é o encontro entre essas duas pessoas, psicólogo e paciente. É
nesse encontro que as coisas acontecem dentro do processo terapêutico.
Terceiro, a logoterapia tem uma estrutura de atendimento
semi-diretiva. Alguns atendimentos direcionam o paciente conforme a vontade do
terapeuta, outras apenas escutam e mui raramente fazem uma intervenção. No
atendimento clínico logoterapêutico, o paciente tem maior tempo de fala, mas o
profissional participa com sua fala, sabendo que toda decisão final e o caminho
a seguir cabe sempre ao paciente.
Quarto, o estilo terapêutico acontece basicamente de duas maneiras: com o uso de instrumentos e técnicas. Os instrumentos são ferramentas escritas, ilustradas, imagens, gráficos que podem ou não serem usados para enriquecer as sessões. Se os instrumentos são opcionais, as técnicas não são opcionais. Elas fazem parte dos atendimentos oferecidos.
A singularidade do paciente: A
clínica é formada pelo terapeuta e pelo paciente, pessoas singulares. Cada
pessoa, disse Frankl, tem um caráter único e irrepetível. Isso me faz lembrar
do conceito fenomenológico da epoché (suspensão de valores). O psicólogo não
atende dois pacientes do mesmo modo, nem ainda o mesmo paciente do mesmo jeito.
Cada sessão é única, ainda que não pareça. Aqui está a natureza do encontro
fenomenológico. O logoterapeuta não atende ninguém na clínica com
pressuposições, baseado em sua aparência, jeito de ser, modo de falar, o que
falou ou deixou de falar, enfim, ele ouve sem juízo. A logoterapia trabalha com
descrição de fenômenos e não com pressuposições. O logoterapeuta trata o
fenômeno como ele se apresenta e não com conceitos prévios ou impressões
definidas daquela pessoa.
A singularidade do terapeuta: O terapeuta não precisa ser a mesma pessoa para todas as pessoas que atende. Se cada pessoa tem seu jeito peculiar de ser, deve ser tratada como ela se apresenta. “A gente responde tal qual a pessoa que a gente acompanha”, respondendo a unicidade do outro. Tudo isso mostra a singularidade de cada processo terapêutico. É por isso que Frankl fala muito mais de padrões de comportamento do que de transtornos. Existe uma sistematização no atendimento logoterapêutico, mas isso não engessa o processo fenomenológico. O logoterapeuta não ignora os sintomas do paciente, mas foca na pessoa e não nos sintomas. Como disse Elisabeth Lukas, “saibam as causas para poder ignorá-las”, ou seja, identifique os sintomas, mas vá para além deles. A singularidade do paciente e a singularidade do terapeuta, resultam na singularidade do processo terapêutico.
ENCONTRO EXISTENCIAL
Quais são os elementos estruturais de uma relação
terapêutica?
Encontro. A base da Logoterapia
é de fato o encontro existencial (encontro humano). Aqui vale lembrar a famosa
frase do Carl Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao
tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. O paciente é visto como
pessoa, e o paciente deve reconhecer o logoterapeuta como pessoa no espaço
terapêutico. Isso não quer dizer que o psicólogo vai falar da sua vida, a não
ser uma vez ou outra, algo já resolvido, que tenha sentido e possa contribuir;
caso contrário, isso pode descaracterizar a terapia. O encontro existencial
pressupõe o encontro de uma pessoa com outra pessoa.
Diálogo. O diálogo é outro ponto
importantíssimo no fazer clínico da Logoterapia e para o encontro existencial.
Não dá para fazer uma clínica logoterapêutica e esperar um encontro existencial
com o paciente se não houver diálogo com ele. O logoterapeuta deve conversar,
perguntar, responder. Não corresponde à Logoterapia um terapeuta silenciado e
passivo. O encontro existencial pressupõe diálogo aberto, franco, honesto, sem
medo de colocar para ele algumas questões percebidas pelo profissional. O
paciente precisa sentir segurança no psicólogo.
Reciprocidade. É
necessário ter reciprocidade entre o terapeuta e o paciente quanto aos
objetivos da terapia; deve existir um alinhamento entre ambos. Não adianta o
paciente querer uma coisa e o psicólogo outra. Isso não gera adesão e provoca
insegurança, dando ao terapeuta a sensação de incapacidade. Por isso, ele
pergunta o objetivo do paciente na terapia, e, a depender das questões trazidas
por ele, ele pergunta qual é o seu objetivo da pessoa naquela queixa.
Vínculo. Frankl, dizia: “O que cura
não é a técnica, é o vínculo”. A palavra vínculo vem de um termo grego que quer
dizer “ligamento”. Os ligamentos são estruturas especializadas que ligam os
ossos entre si, promovendo estabilidade nas articulações, e servem de guia para
o movimento articular. São peças de tecido conjuntivo denso compostas por
fibras colágenas que fornecem alta resistência à tração (BENJAMIN & RALPHS,
1997). Vínculo, fala de união, ligadura,
atadura duradoura. Algo que ata, liga ou aperta; liame, nó. A ideia de vínculo
diz que eu preciso estar ali com o outro, numa relação horizontal de apoio ao
outro. A primeira coisa a ser trabalhada na clínica é o vínculo e fortalecer
esse nó. Não são os instrumentos nem as técnicas que devem ter prioridade, mas
o vínculo terapêutico. Sem isso, a terapia se perde pelo caminho.
Encontro Existencial: “Situação em que o outro afeta de
alguma maneira o curso da minha existência” (GIOVANETTI).
No encontro existencial, afetamos e somos afetados pelo
outro, seja pelo contato presencial ou até mesmo pela leitura de um livro. O
encontro existencial pode mudar o curso da nossa vida.
O encontro é uma relação intersubjetiva onde há troca entre
as pessoas - embora assimétrica na relação psicoterapêutica - provoca uma
colocação em movimento de sua existência.