Logoterapia e Análise existencial


É deveras importante entender o foco essencial da logoterapia, o que ela busca, onde está seu foco e para o que ela apela. Entender isso é compreender qual seja o cerne dessa abordagem psicoterapêutica.

"A Logoterapia é uma psicoterapia orientada à busca de sentido, que foca no espiritual e apela à capacidade de oposição do espírito".


A “oposição do espírito” fala da dimensão noética que é a capacidade de se opor ao que está em processo de adoecimento (dimensão psicofísica). Além da dimensão psicológica e física há uma terceira dimensão - a dimensão noética, que é a dimensão teorizada por Frankl; ela só aparecerá se eu tirar o foco da dimensão psicofísica, caso contrário, ela fica perdida. Portanto, a logoterapia é uma psicoterapia que vai apelar para a oposição do espírito, visando sempre a busca de sentido que é a base da logoterapia.


As pessoas estão cada vez mais buscando terceirizar suas questões morais, psicológicas, emocionais e desconhecem a capacidade inerente que têm de se oporem a tudo aquilo que lhes faz mal. Essa oposição vem com a consciência que é o órgão do sentido e que manifesta competências como a liberdade de agir, a capacidade de decidir, fazer escolhas e assumir responsabilidade por si mesmas. Em alguns casos há lugar para medicação psiquiátrica e é necessária a mediação terapêutica de um psicólogo logoterapeuta (profissional que aplica os conceitos franklianos na prática clínica); mas é a pessoa que deve finalmente decidir o que fazer numa clara oposição do espírito ao que lhe é nocivo.


Quando os conceitos de Viktor Frankl, criador da logoterapia são aplicados no atendimento clínico por um psicólogo, isso á logoterapia. Quando esses mesmos conceitos são aplicados em outro contexto que não a clínica (escola, igreja, grupos sociais, empresas), chamamos isso de Análise Existencial (análise antropológica de investigação).


A Logoterapia tem uma aplicação específica e uma aplicação não-específica:


Específica, se refere a atuação clínica em casos de neurose noogênica (processo de adoecimento causado por um vazio existencial. Diante desse vazio, a dimensão espiritual fica inacessível. A dimensão espiritual não adoece, mas ela pode ficar inacessível).


Não-específica, se refere a atuação clínica além de neurose noogênica, ou seja, outros transtornos mencionados no DSM e CID e condições não clínicas que às vezes não chegam a ser propriamente um transtorno. Várias abordagens atuam em diversas condições clínicas, a logoterapia também se presta a isso. É nesse sentido que se diz que ela tem também uma aplicação não-específica, porque a especialidade dela são as neuroses noogênicas. É por isso que se usa a expressão LAE - Logoterapia e Análise Existencial.


MITOS SOBRE A LOGOTERAPIA QUE DEVEM SER REJEITADOS:


1. Existe o mito que a logoterapia e análise existencial é complementar a outras abordagens. Frankl disse que a logoterapia é complementar às abordagens de Freud e Adler, no que diz respeito aos conceitos. A psicanálise e a psicologia individual têm perspectivas que a logoterapia não trouxe, mas a logoterapia tem conceitos que essas outras abordagens não tinham. Não é questão de comparar qual a melhor abordagem, mas que elas se complementem entre si. Frankl se sentia como um anão nos ombros de gigantes: Freud e Adler; assim, ele via mais longe. A Logoterapia se sustenta para uma prática clínica: tem visão de homem, base filosófica, teoria dos processos de adoecimento, técnicas e metodologia. Portanto, é um mito dizer que a logoterapia é apenas um complemento de outras teorias da psicologia, pelo contrário, ela é complementar por acrescentar o que as outras abordagens não tinham e não têm até hoje, a dimensão noética.


2. Outro mito é dizer que a logoterapia tem caráter religioso. O livro de Frankl: A presença ignorada de Deus, em alemão: Der Unbewusste Gott - O Deus Inconsciente, (tese de doutorado em filosofia de Viktor Frankl), tem levado pessoas erradamente a pensar que a logoterapia tem caráter religioso. Quando Frankl fala de Deus, está falando da capacidade humana de transcender através da fé, mas não apenas por esse meio. Frankl teve a coragem de quebrar paradigmas e enfrentar bloqueios para falar de Deus no meio acadêmico onde era praticamente inaceitável fazer isso. Frankl distingue o campo da religião do campo da logoterapia. No livro Fundamentos antropológicos da logoterapia, ele cita outras figuras “divinas”, não apenas do cristianismo, mas também no hinduísmo, sempre com a intenção de explicar o que é a transcendência. Quando olhamos para o sentido de vida – ponto central da logoterapia, vemos que ela se aplica e pode ser usada normalmente por ateus, o que mostra que a logoterapia não tem caráter religioso. O fato de Frankl utilizar elementos religiosos para explicar conceitos, não quer dizer que a logoterapia seja religiosa. Ele quis falar da capacidade humana de transcender. Portanto, é um equívoco dizer que a logoterapia tem um caráter religioso. Isso é mais um mito.


3. Dizem também que a logoterapia não é científica. A logoterapia é científica e tem uma base epistemológica que a sustenta, que é a fenomenologia. Além do aspecto empírico, tem uma base filosófica. Quando alguém disser que a logoterapia não é científica, pergunte-lhe: Ela não é científica para quem? Qual é o referencial de ciência que você está utilizando? As bases epistemológicas das abordagens são diferentes; a psicologia não é um consenso; existem várias formas de fazer ciência. Existe uma base do que é ciência, mas existem caminhos particulares para isso. O método científico da logoterapia é a fenomenologia. Os conceitos apresentados por Frankl têm embasamento e validade científicos enquanto construtos; as técnicas da logoterapia já foram utilizadas em várias pesquisas científicas exaustivas mostrando a eficácia do diálogo socrático, da intenção paradoxal, da derreflexão; vários estudos rondomizados já foram desenvolvidos para mostrar a aplicação da logoterapia em um determinado tipo de atendimento, como psicopatologia, transtorno de ansiedade, transtorno depressivo; o que evidencia o seu caráter científico. A diferença da logoterapia para outras abordagens, é epistemológica. Sem essa compreensão, do ponto de vista da logoterapia, outras abordagens também não são científicas.


4. É um mito pensar que a logoterapia é humanista. A logoterapia não é humanista, é fenomenológica e existencial. Isso está claro nos escritos de Viktor Frankl. O humanismo surgiu nos Estados Unidos, a fenomenologia e o existencialismo surgiram na Europa. Tanto o humanismo como a fenomenologia e o existencialismo, surgiram em oposição ao positivismo. Fenomenologia e humanismo têm suas particularidades, mas também se juntam como parte da terceira força da psicologia. A primeira força foi o Behaviorismo, a segunda foi a Psicanálise, e a terceira força, o Humanismo. E aí, juntaram humanismo, fenomenologia e existencialismo, mas elas têm diferenças entre si. A postura de Frankl é humanista, mas epistemologicamente a logoterapia não é humanista e sim fenomenológica. A base fenomenológica da logoterapia está em Max Scheler, Martin Heidegger, Edmund Husserl, Merleau-Ponty. Do existencialismo, a logoterapia tem influência de Soren Kierkegaard, Karl Jasper, Gabriel Marcel, Martin Buber.


VERDADES SOBRE A LOGOTERAPIA:


A Logoterapia e Análise Existencial não é complementar às outras abordagens no sentido de depender de outras abordagens para se sustentar na clínica. O psicólogo logoterapeuta graduado, com especialização, que se atualiza e faz supervisão, não precisa de nada suplementar para sustentar seu atendimento clínico. A Logoterapia por si já tem toda a bagagem teórica necessária e a parte prática necessária para que você possa exercê-la.


A Logoterapia não tem caráter religioso; Frankl não associa a Logoterapia com religião. A Logoterapia é científica e tem uma base filosófica e fenomenológica. A Logoterapia é fenomenológica-Existencial.

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Curso: Logoterapia Clínica / Lorena Bandeira.

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