O otimismo trágico

Alojamentos, corredor.

A imagem acima é de Auschwitz, na Polônia, um dos campos de concentração por onde passou Frankl. Na terceira parte do livro Em busca de sentido, Viktor Frankl fala do que ele chamava de “tríade trágica” e que aqui é intitulado de “otimismo trágico”. Por que otimismo trágico? Como ser otimista diante daquilo que nos é trágico? É possível ser otimista diante da dor, da culpa e da morte, componentes da tríade trágica?

Essa é a grande maravilha da vida, encontrar sentido em qualquer circunstância, mesmo que seja numa situação trágica e miserável. É nato no ser humano o potencial de mudar para melhor, transformar o negativo em positivo, criar algo quando nada parece oferecer matéria prima para construir o novo. É assim que é. Você e eu podemos dominar qualquer situação; e, ainda que aparentemente nada possamos fazer para mudar ao nosso redor, podemos mudar nossa atitude diante do trágico, como disse Frankl:

1. transformar o
sofrimento numa conquista e numa realização humana;
2. retirar da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhor;
3. fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações responsáveis.

O otimismo do qual se fala aqui não é imposto nem autodeterminado, é o consequente, resultado do sentido que se vive em cada situação. Frankl compara o otimismo com o sorriso. Se eu quero ver alguém rindo, preciso dar-lhe um motivo, como contar-lhe uma piada, por exemplo. Quando temos um sentido, isso nos torna otimistas e nos capacita a enfrentar o sofrimento. Porém, se falta sentido, não há motivação para continuar, mesmo que “tudo esteja bem”; agora, imagine se a situação for de sofrimento, culpa ou morte! Aí sim, a decadência é evidente.

Frankl conta que quando um companheiro de prisão se recusava a levantar-se pela manhã para enfrentar o dia e acendia um cigarro para continuar deitado naquele ambiente fétido, todos sabiam que ele tinha desistido e em dois dias todos testemunhariam sua morte. Quando alguém perde a percepção de sentido e busca o prazer imediato, ela está vivendo à margem da dignidade humana.

O que dizer de nossa geração entregue ao prazer imediato sem noção do significado da vida? Aqueles presos que adotavam um comportamento de “desistite”, logo fumavam um cigarro para obterem um mínimo de prazer. E hoje, ao que as pessoas se entregam? Você deixar que você mesmo responda essa pergunta.

A falta de sentido generalizada causadora de neuroses não vem da falta de ter com o que viver, e sim de não ter por que viver; ter os meios, mas não ter o sentido, não faz ninguém otimista. O inverso é verdade; quando se vive com sentido, se vive com otimismo, tendo ou não tendo com o que viver. Melhor é que se tenha os dois.

Vale dizer que a falta de sentido em si não é patológica, mas que pode se tornar doentia, dando lugar a um vazio existencial que pode implicar em uma “síndrome neurótica” – depressão, agressão, dependência de drogas, o que não quer dizer que toda depressão seja por causa de vazio existencial; porém, a consciência de um sentido pelo qual viver pode tornar a vida diferente, para melhor.

A logoterapia não rejeita um sentido geral para a vida, mas entende que esse conceito geral é feito de cada momento e cada experiência na vida; é como um filme que só será entendido no final depois de cada cena. Daí a importância que a logoterapia dá para a responsabilidade de viver conscientemente com sentido, porque disso depende no final a nossa vida. Além disso, Frankl falava de uma direção proveniente da consciência, possuída de um acúmulo de valores estabelecidos ao longo de evolução de nossa espécie.

Muitos perguntam: como encontrar o sentido da vida? Frankl apontou três caminhos principais: 1) fazer algo; 2) amar alguém; 3) mudar-se para além de qualquer situação.

Ninguém quer sofrer nem sentir dor, mas são inevitáveis. A diferença está no modo como se lida com tais situações. Nenhuma culpa pode ser completamente esclarecida; contudo, ela dá ao culpado a oportunidade de assumir-se com responsabilidade. A morte é inevitável, mas ela não acaba com aquilo que fomos no passado, porque o passado não morre. Depois de mortos continuamos falando através do passado que tivemos e deixamos.

Este artigo trata da terceira parte do livro “Em Busca de Sentido”, de Viktor Frankl. Se você quiser ler sobre a primeira parte, leia: Embusca de sentido; se quiser ler sobre a segunda parte do mesmo livro, leia: Conceitosfundamentais da logoterapia.

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