Chapeuzinho Amarelo era amarelada de medo. Tinha medo de tudo. Vivia paralisada com medo das más consequências de tudo o que fazia: “Não estava resfriada, mas tossia”. Via o que não existia: “Ouvia conto de fada e estremecia”. Não apanhava sol porque tinha medo da sombra, não ficava em pé com medo de cair, não dormia com medo de pesadelo. Assim era Chapeuzinho Amarelo. Seu maior medo era de um LOBO que ela nunca via e que talvez nem existia. De tanto pensar no LOBO, um dia Chapeuzinho Amarelo topou com ele. O engraçado é que quando encontrou o LOBO, Chapeuzinho Amarelo foi perdendo o medo, o medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Grande foi a alegria de Chapeuzinho Amarelo – perdeu o medo do LOBO quando viu o LOBO. O LOBO já não era mais um LO-BO. Era um BO-LO. Virou um bolo fofo, tremendo que nem pudim, com medo do Chapeuzim, com medo de ser comido inteirim. Ao perder o medo do Lobo, Chapeuzinho Amarelo perdeu também medo de chuva, cai, se levanta, se machuca, entra no mato e brinca com vizinhos e amigos. Brinca sozinha e aprendeu a transformar medos em companheiros: O Dragão virou Gãodra, Coruja virou Jacoru, Tubarão virou Barão-Tu, Bicho-Papão virou Pão Bichôpa. Enfim, todos os monstros viraram trosmons. Transforme seus medos em brinquedos.
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CHICO Buarque. Chapeuzinho Amarelo. Ilustrações de
Ziraldo. 27ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.